A Prostituição Silenciosa: O Preço que as Filhas Pagam Pela Honra dos Pais
- 14 de dez.
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Introdução
A escolha de escrever sobre o sacrifício invisível das filhas não se deve, de forma alguma, a qualquer discriminação, mas sim ao dever de alertar a sociedade. É fundamental desmantelar a arrogância e o snobismo que levam as pessoas a olhar com desdém para o sofrimento alheio, porque, na realidade, ninguém sabe o que se passa na arquitetura de cada alma. Este artigo é uma análise ética, um convite à humildade e à compreensão do preço que se paga pela sobrevivência da fachada.
1. A Fachada e o Preço da Sobrevivência
Acima de tudo, é vital desmantelar o mito. A prostituição é, demasiadas vezes, rotulada socialmente como uma profissão fracamente fácil, o caminho para a “vida fácil”, escolhido por capricho. Contudo, ao contrário do que o senso comum julga, essa vida está longe de ser fácil e não é, para a maioria, um ato de escolha, mas sim de necessidade económica brutal.
O indivíduo — e não menosprezando a realidade da prostituição masculina — arrisca a sua vida diariamente por motivos de sobrevivência. É imperativo lembrar que são seres humanos, não são animais, no entanto, são tratados como tal. Os perigos não são somente físicos, com clientes que recorrem ao mau trato e à violência, e o facto de muitas vezes, se usar drogas, mas também biológicos, com a constante ameaça de contrair inúmeras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), como a Gonorreia, a SIDA e afins, cujo fluxo e consequências estendem-se em cadeia, afetando diretamente a saúde pública. E o mais grave: muitos acompanhantes de Luxo são mortos, assassinados no ato, ou falecem devido à falta de cuidados básicos de saúde. Contudo, a sociedade continua cega.
Acresce que, por norma, quem pratica a prostituição é banido da sociedade. A mediocridade social prefere, de facto, banir ao invés de auxiliar a pessoa a reintegrar um conjunto de normas que são bem-vistas. Esta condenação sem auxílio é o preço que a pessoa paga por uma luta visível pela sobrevivência. O que o meu tema propõe é: se este é o preço da sobrevivência económica, qual é, então, o preço invisível que se paga pela sobrevivência da Honra de uma Família?
2. O Preço da Manutenção: A Prostituição Silenciosa
Em muitas sociedades tradicionais (um tema ricamente explorado na literatura portuguesa clássica), a honra da família era um valor social supremo, intrinsecamente ligado à conduta irrepreensível dos seus membros. Se o Ponto 1 demonstrou o preço visível pago pela sobrevivência económica, o “Preço da Manutenção” revela a submissão exigida para a sobrevivência do estatuto social.
O Sacrifício Invisível das Filhas refere-se a essa renúncia brutal e silenciosa. A filha de um Pai de “Honra” da Elite é, de facto, forçada a vender o seu corpo, a sua carreira ou a sua sanidade para manter o snobismo e o status familiar. Eram obrigadas a negar os seus desejos, submetendo-se a casamentos arranjados ou mantendo uma conduta irrepreensível.
É aqui que reside a “Prostituição Silenciosa”: a negação das suas vidas e almas, trocadas pela moeda da reputação familiar. O custo da manutenção da honra da família era o sacrifício pessoal e não reconhecido da filha, que trocava a sua liberdade pela fachada social. Nesta transação, o amor verdadeiro e a felicidade genuína são vistos como uma ameaça a essa fachada e, por isso, devem ser vendidos em troca de um apelido limpo. Esta submissão forçada é, cinicamente, elogiada pela sociedade, mas é uma escravidão da alma.
3. O Estudo Ético: Hipocrisia e a Destruição do Amor
O fosso moral da sociedade é exposto quando analisamos os extremos: no topo, a filha da Elite é forçada a vender a sua carreira, corpo ou sanidade para sustentar o snobismo e o status da família. No extremo oposto, a Mãe Pobre vê o seu amor destruído por um “pai venenoso,” resultando no fim trágico da sua filha. O olhar de rutura desta mãe é o último preço.
A vida não é, de facto, como o fandom quer. A beleza superficial do ecrã sugere que os opostos exclusivamente se cruzam para um final satisfatório. A realidade que a escrita séria tem o dever de desvendar é que o amor — seja ele a paixão romântica ou o amor incondicional da maternidade — é invariavelmente vendido ou destruído para pagar o preço da hipocrisia e da indiferença social.
Em suma, a Prostituição Silenciosa é a arquitetura de uma sociedade que exige a negação do eu, transformando o amor genuíno num sacrifício. Esta tragédia é agravada pela ausência de amparo legal: o trabalho sexual não é, à luz da nossa base legal, considerado uma profissão, pelo que não consta no Código do Trabalho. Esta ausência cria uma deficiência de direitos humanos básicos e de dignidade. Se existe um sindicato para quase todas as profissões, se qualquer trabalhador tem um horário digno, e se o esforço por melhores condições para mulheres puerperais e lactantes é uma luta visível, então, onde fica a dignidade e a proteção legal da prostituta — e dos seus filhos? O preço pago pelas filhas é, portanto, não somente social e moral, mas também legalmente desprotegido.



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